Munch e O Grito
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5/24/2011
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Edvard Munch, pintor norueguês que, ao lado de Van Gogh, foi um dos precursores do Expressionismo, descreve sua obra maior com uma visão de horror: "Eu caminhava com dois amigos - o sol se pôs, o céu tornou-se vermelho-sangue - eu ressenti como que um sopro de melancolia. Parei, apoiei-me no muro, mortalmente fatigado; sobre a cidade e do fiorde, de um azul quase negro, planavam nuvens de sangue e línguas de fogo: meus amigos continuaram seu caminho - eu fiquei no lugar, tremendo de angústia. Parecia-me escutar o grito imenso, infinito, da natureza"(1) .
Reconhece-se, nessa visão, a origem de O Grito ("Der Schrei", 1893), onde um homem, deformado pelo próprio espasmo, expressa em seu corpo uma angústia que envolve a paisagem, enquanto ao fundo dois homens de fraque e cartola afastam-se, indiferentes, como se nada estivesse acontecendo. E não apenas nessa imagem, como em toda a obra de Munch, que estropiou dois dedos da mão esquerda com um tiro, depois de romper com a noiva, a angústia da morte que percorre toda sua obra antecipa os horrores que destruiriam, para sempre, a belle époque instalada sobre o vulcão dos nacionalismos que se acirravam.
O grito de Munch ecoou na Alemanha, onde o expressionismo floresceu por uma série de condições propícias. Como o país industrializava-se rapidamente dentro de estruturas sociais conservadoras, os jovens artistas reagiam pelo exagero e a deformação contra códigos morais anacrônicos e repressivos.(2)
(1) Citado por Jean Michel PALMIER, in L'Expressionnisme comme révolte, p. 136.
(2) [trecho do texto publicado no site www.portalsaofrancisco.com.br, de: Luiz Nazário, A Revolta Expressionista, in As Sombras Móveis. Belo Horizonte: Editora da UFMG/midia@rte, 1999.]
