somente a noite, a escuridão
o abrigam em seus braços desabitados.
e seus olhos pesados e turvos
refletem um passado distorcido e carnal,
e se arrastam dispersos, continuamente
pelas mesmas quatro paredes
somente o silêncio, a surdez infinita do silêncio
lhe fala e ouve sua mudez rumorosa.
somente o copo, o prato vazio
lhe tiram e matam sua fome
e o vácuo é seu universo
a inércia, a sua condução
tão amargo e tão veloz
como a dor dilacerante e pungente e,
somente a água, a frígida água
desnuda seus pesadelos em chamas
somente as janelas, as paredes nuas
lhe conservam e o decompõem
quando o tempo inunda sua mente
a noite eterna move uma tempestade violenta
dando feições medonhas à névoa sombria
que esquarteja seus olhos suplicantes
somente a porta, a porta aberta
tem as chaves das suas algemas
somente os relâmpagos, a chuva
lhe encantam e o conduzem
e tão aconchegante é a noite intempérie,
que resguarda almas fugidias
espectros soturnos sob lágrimas
do fulgor das luzes ofuscantes e
somente um beco, um beco obscuro
atrai seus olhos sob o noturno temporal.
somente uma corda, um monumento pendurado
lhe faz parar e apreciar sua beleza
ventos de água vociferantes giram seu corpo,
mas agora dorme protegida no colo de um mortal
que emudece ao sentir sua pele fina, tão macia
somente uma mulher, uma mulher nua
libertada da forca por suas mãos trêmulas
somente um sentimento, uma dor
lhe percorrem as veias e alma
se afastando, seus olhos espelhados refletem maremotos
criados por moinhos dos desertos de suas emoções,
e sobe numa fleuma secular os mesmos degraus.
no mesmo compasso, pula no vazio da morte
somente este desfecho, um parabólico desfecho
seu corpo pendurado pela mesma corda.
17jul01
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