Suco e gravata
Celso um jovem trabalhador, solitário e desastrado, com cara de perdedor, porém inocente e de bom coração. Certo dia Celso estava tomando café numa modesta e aconchegante cafeteria do lado do seu trabalho com seus colegas. Era uma cafeteria minúscula, cabiam apenas duas mesinhas no local, com uma decoração de bom gosto, com muitas flores para alegrar o ambiente, cores quentes que aproximam as pessoas e sempre tocava ao fundo uma boa música que completava a atmosfera. Um ótimo lugar para se passar a tarde com os amigos.
Terminado o café, todos tinham que voltar para suas ocupações, pagaram a conta e se levantaram para retornarem ao escritório, Celso fazia o mesmo, mas como de costume, as coisas não eram tão simples para ele como eram para as outras pessoas, e o parecia uma simples tarefa transformou-se numa tempestade. Celso conseguiu pagar sua conta, foi, como sempre, muito educado para com a garçonete, despediu-se do caixa e foi o último a levantar. A partir daí tudo parecia mover-se em câmera lenta para ele, seu pé havia enroscado no pé da cadeira, que por sua vez, estava enroscada com o pé da mesa, que por sua vez estava com outras 3 cadeiras enroscadas a ela formando um complexo sistema. Iniciou-se então um balé desordenado, Celso parecia uma marionete desgovernada, arrastando junto consigo toda a mobília do lugar, enquanto xícaras, açucareiros, colheres, flores, guardanapos, pires, bolachas, migalhas, tudo, voava completando o elenco, quanto mais Celso tentava equilibrar-se novamente mais trazia coisas consigo e após segundos intermináveis de contorcionismos involuntários Celso via-se estatelado ao chão. Sentia seu corpo molhado, mas sabia que não era devido ao suor de sua apresentação. Sentia um aroma de café, baunilha, menta, chocolate, rosas, tudo exalando de suas roupas, seus joelhos, cotovelos e queixo esfolados não doíam mais do que seu orgulho, só uma palavra vinha em sua mente: constrangimento e neste momento agonizante tudo mudou, quando do outro lado da rua Ela passou. O tempo que demorava para passar, de repente parou! As gargalhadas foram para longe e somente se podia ouvir a música do rádio ao fundo: La vie en rose.
Tudo voltou ao normal e o tempo voltou a correr normalmente quando Ela entrou por uma porta, numa gravataria. Ele nunca havia visto Ela por lá antes, mas tinha certeza de que daquele dia em diante queria vê-La todos os dias!
Celso retornou para sua mesa próxima a janela e seus olhos não se desviavam da gravataria do outro lado da rua. Ele nem deu conta de que seu chefe vinha em sua direção com cara de poucos amigos, cobrando resultados. No susto Celso somou mais um tombo da cadeira para sua coleção, chutando um grampeador e atingindo o chefe (que também por algum motivo já havia se habituado a ser atingido por objetos de escritório). Por sorte o relatório já estava pronto desde manhã e Celso tirou o resto da tarde para pensar Nela, com seus sapatos vermelhos de verniz, seu vestido quatro dedos abaixo do joelho, um vestido grafite, sem mangas que lhe caía muitíssimo bem e seus cabelos escuros e presos, mas que mesmo assim brilhavam como nenhum outro. Até que o relógio marcou 17:15 e Ela saiu com pressa para não perder sua condução.
No dia seguinte, foi trabalhar cantarolando, vestiu seu melhor terno, estava muito bem apessoado, com um brilho extra no olhar, foi o primeiro a chegar e ficou em sua mesa esperando Ela chegar. 7:43 Ela entrou, meio dia ele entrou na gravataria, Ela o atendeu prontamente, o ajudava com os laços, não eram os melhores, mas para ele eram perfeitos, as gravatas então eram horríveis, mas ele não reparou, só reparou no seu nome no crachá: Marcele. Não havia pessoa mais atenciosa, graciosa ou delicada do que Marcele, ele nem acreditava que ela estava há 32 cm dele (sim, ele trabalhava com exatas!). O gerente dela também não acreditava! Percebendo tudo mandou Marcele imediatamente para o caixa e foi atender Celso (que ficou todo cabisbaixo). O gerente com maldade e ciúmes torturou o pobre apaixonado sem que ele percebesse, lhe enforcou com a gravata de palmeiras tropicais, apertou demais o nó da gravata borboleta, pisou em seu pé, e lhe deu uma ‘gavetada’ ao abrir o armário a procura de uma gravata do pateta, Celso praticamente exaurido, escolheu algumas gravatas e foi pagar antes que seu horário de almoço terminasse, porém seu pé enroscou no laço de uma gravata que o gerente “acidentalmente” deixou cair no chão, Celso que já estava como seu cartão ouro na não, mirando a bela Marcele no caixa, foi direto ao chão, partindo seu cartão ao meio. Marcele logo se comoveu e foi prontamente socorrer o moço novamente estatelado no chão.
Marcele simpatizara com o rapaz, Celso estava simplesmente nos céus, o gerente estava furioso. Infelizmente Celso não tinha como pagar as gravatas terríveis e felizmente ele teria que voltar outro dia com um novo cartão. Vendo que Celso terá que retornar, o Gerente trama artimanhas para impedir que volte, então ele começa fechar a loja para horário de almoço, único horário que Celso pode sair do escritório. Quando ele via que Celso conseguia sair mais cedo, mandava Marcele para o estoque. Mesmo assim, Celso sempre comprava uma gravata em suas investidas e quase não tinha onde guardá-las mais, pelo menos teria presentes de dia dos pais para sempre!
Celso não sabia como falar com Marcele fora da loja, o que ele faria? Com certeza faria papel de bobo, caindo, ou deixando cair alguma coisa na moça! Imaginou inúmeras situações, nenhuma delas acabava bem, sempre havia um tapa na sua cara no final.
Celso percebe que Marcele começa a freqüentar o café antes de começar a trabalhar e pede que a Garçonete o ajude. Apesar do Celso sempre dar um trabalho extra à garçonete, que tem que limpar sua bagunça sempre que ele deixa a cafeteria, ela aceita o pedido, pois entende o jovem rapaz: ela também nutre uma paixão escondida pelo Gerente.
Um dia, antes do Gerente chegar, antes do trabalho começar, Celso está na cafeteria, Marcele chega e não tem mais mesas livres, a Garçonete insiste para que Marcele sente-se com Celso, eles pedem sucos. A garçonete colocara a mesa na calçada, para os dois aproveitarem o sol da manhã e para que ela tivesse menos trabalho para limpar o chão na saída.
O suco chega, no fundo se ouve Vamos Fugir do Gil, o sol ilumina os cabelos escuros de Marcele e os faz brilhar como nunca. Tudo está perfeito até Celso tentar dar o primeiro gole em seu suco, ele erra a inclinação do copo em apenas 7 graus, mas é o suficiente pra tomar um banho de suco de laranja mamão e cenoura. Marcele levanta rapidamente com o intuito de ajudar o pobre moço e, na rapidez, esquece de deixar seu copo na mesa e ao se inclinar para secá-lo com o guardanapo, seu copo vira também, acrescentando abacaxi com hortelã na camisa e na calça de Celso. A garçonete fica feliz de ter deixado a mesa ali, Celso e Marcele caem na risada ao descobrirem que os dois são desastrados e começam a compartilhar suas catastróficas experiências! E ao se distraírem o Gerente os pega no flagra.
O Gerente pega a moça pelos braços e começa a sacudi-la e ameaçar mandar-lhe embora, Celso tenta Intervir, mas escorrega no suco, a Garçonete corre pra ajudar, mas escorrega também, Marcele joga o resto do suco no Gerente, mas ele desvia e ela acerta o Chefe do Celso (que estava acostumado a se atingido por objetos de escritório, mas não por sucos de abacaxi com hortelã), que se aproximara para saber o que estava acontecendo.
Nisso o caixa da cafeteria havia chamado a polícia e todos foram para a delegacia, que foi tomada pelo cheiro de mamão, laranja, cenoura e abacaxi. Após todo o falatório e confusão e encenação e relato dos fatos todos foram liberados exceto o Gerente que ficou preso por um dia na delegacia para não bater em mulheres. A Garçonete ficou desiludida com o Gerente e decepcionada com o amor, mas essa decepção durou pouco, pois o Chefe a convidou para jantar e ela aceitou. Além disso chefe do Celso era amigo do dono da gravataria e tio de Marcele, o Gerente foi mandado embora por agredir a moça, ela virou a gerente da loja e Celso pôde visitá-la sempre que quisesse e os dois puderam fazer muitas trapalhadas juntos sem que nenhum gerente pudesse atrapalhar.