Hoje comemoram-se cem anos de nascimento da escritora Rachel de Queiroz (1910-2003), com lançamento de um livro de poemas inédito, “Mandacaru”, pelo Instituto Moreira Salles.
"Mandacaru é uma coletânea de poemas manuscritos que permanecia inédita até ser descoberta no Fundo Rachel de Queiroz do Instituto Moreira Salles. O livro revela a inquietação da escritora muito jovem – ainda com 17 anos – na busca por seu estilo natural, que encontraria em 1930, quando publicou o romance O quinze. Em Mandacaru, Rachel de Queiroz tratou de temas e de personagens que desenvolveria não só nos romances posteriores, como também nas crônicas e no teatro.
"Todos os 10 poemas de Mandacaru são acompanhados de fac-símiles dos manuscritos, entre os quais “O êxodo”, “Meu padrinho” e “Lampião”. Datados de 1928, os poemas revelam o entusiasmo com que a autora procurou se integrar ao movimento modernista. “O livro valia como uma resposta à convocação, não só dos modernistas dissidentes daquele final de década, mas também dos anteriores, empenhados na construção de uma consciência nacional, de um novo projeto de brasilidade estética por meio de uma ‘síntese cultural própria’ – nas palavras do poeta Raul Bopp”, explica Elvia Bezerra, organizadora da edição. Elvia é autora do texto de abertura do livro, no qual analisa os primeiros passos de Rachel de Queiroz como jornalista na imprensa do Ceará, desde a sua estreia, em 1927, até 1930, quando publica O quinze". Texto publicado no site do Instituto Moreira Sales.
E para pra fechar a celebração, segue um poema da autora:
Eis que temos aqui a Poesia,
a grande Poesia.
Que não oferece signos
nem linguagem específica, não respeita
sequer os limites do idioma. Ela flui, como um rio.
como o sangue nas artérias,
tão espontânea que nem se sabe como foi escrita.
E ao mesmo tempo tão elaborada -
feito uma flor na sua perfeição minuciosa,
um cristal que se arranca da terra
já dentro da geometria impecável
da sua lapidação.
Onde se conta uma história,
onde se vive um delírio; onde a condição humana exacerba,
até à fronteira da loucura,
junto com Vincent e os seus girassóis de fogo,
à sombra de Eva Braun, envolta no mistério ao
mesmo tempo
fácil e insolúvel da sua tragédia.
Sim, é o encontro com a Poesia.
Fontes
imagens e texto: Instituto Moreira Salles
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