Essa historieta biográfica foi escrita para a personagem Manolo, durante o processo de criação do espetáculo infantil, do Teatro Girandolá, Conto de todas as cores, que por sua vez foi inspirado na obra Lili Inventa o Mundo, de Mario Quintana.
Fiquem à vontade para comentar...e boa leitura!
Nasceu numa família onde a mãe era professora e o pai tipógrafo e trabalhava num jornal. Desde muito cedo, Manolo esteve sempre rodeado por livros, revistas e muitos, muitos jornais. Todos os dias seus pais lhe contavam histórias e essa prática se iniciou assim que sua mãe soube que o estava esperando. Na escola, passava todo o recreio, contando aos amigos as histórias que ouvia de seus pais. E percebendo grande facilidade que demonstrava ao retransmitir as histórias que ouvia começou a inventar suas próprias histórias. E as contava para todo mundo que encontrava, fosse na fila da padaria, na fila do ônibus, ou mesmo para um mendigo na rua. Notavas-se nele uma extrema facilidade para fazer novas amizades.
Pouco antes da maioridade, foi embora com um circo que havia passado por sua pequena cidade. A idéia de fugir surgiu logo após a primeira noite do circo na cidade, quando Manolo foi escolhido para subir no picadeiro e participar de um número que consistia em inventar uma história de improviso para dois palhaços vivenciarem. E Manolo se saiu tão bem que participou nos outros dois dias que o circo ficou na cidade. No último dia, já enturmado com todo o pessoal do circo... o dono o convidou para fazer parte da trupe.
Manolo nem pestanejou, e disse mais do que sim: que iria aonde quer que a Companhia fosse. Na manhã seguinte, despediu-se de seus pais e de seus quatro irmãos. Foi uma choração sem fim, mas eles não podiam segurar o contador de histórias que queria desbravar os universos da imaginação, pelo mundão a fora que o esperava de malas prontas. E assim ele partiu, com os olhos chorosos e o coração apertado, mas com uma sede sem tamanho de saciar o mundo com suas histórias.
A cada cidade que passavam crianças e adultos se encantavam com suas fantásticas histórias. E o circo sempre estava lotado, pois assim que chegava numa cidade, nosso novo artista mambembe tratava de conhecer todo mundo que pudesse, e sempre contando suas incríveis histórias. Foi numa cidade pequena dessas do interior que Manolo conheceu dois novos amigos, contadores de histórias como ele. Agora, o Circo dos Cata Ventos contava com três contadores de histórias que davam vida a imaginação e a fantasia sem freios, sem fim.
O dono do circo, já muito velho, acabou morrendo, de uma morte tranqüila, mas muito estranha. Eis como tudo se passou: foi na apresentação mais mágica de todas que já houve em toda a história do circo. Foi preparada uma magnífica homenagem ao seu Alfredo que naquele dia completava seus 80 anos, e ele ficou tão feliz que chorou como criança, findo o espetáculo. Todos arrumando as coisas, tirando a maquiagem, os figurinos, e o querido velhinho, ou melhor... o desengonçado palhaço Meia-furada, fez questão de agradecer e dar um beijo e um abraço bem apertado, como sempre fazia, em cada um da trupe... depois se retirou e seguiu para seu trailer... na manhã seguinte, o encontraram morto em sua cama... com um belo sorriso estampado no rosto. Foi a imagem mais bela e ao mesmo tempo mais triste para todos...
No dia seguinte, todos reunidos, foi decidido que o circo não podia continuar sem o Meia-furada... não fazia sentido. Não tinha o riso de todas as manhãs que acordava a todos... não tinha o homem que criou o circo dos cata-ventos e que nunca deixou que ele parasse de girar.... mas agora ninguém se sentia forte o bastante para soprá-lo e fazê-lo girar novamente.
...Algumas coisas foram vendidas, outras dadas, mas cada um levou consigo alguma coisa... seguindo seu próprio caminho...
Manolo e seus dois amigos contadores decidiram continuar juntos, pois as chamas da imaginação, da fantasia, da brincadeira ainda os alimentavam como sempre... e saíram percorrendo as cidades, cada um com seu baú com milhares de histórias a espera de quem as ouvissem.
Os três tinham temperamentos muito diferentes... Manolo sempre foi o apaziguador, fazia o meio de campo entres os dois que sempre arrumavam um jeito discordar do outro. Sempre embarcava nas histórias inventadas pelos outros dois, anotando cada detalhe que achava interessante. Só havia um pequeno problema tinha muito medo de escuro, mesmo das histórias inventadas...