Meu primeiro contato com o Boca do Inferno foi no colegio (como a maioria da minha geração) através de uma professora apaixonada por literatura... e não podia ser melhor... tive acesso a boa parte de sua obra e me recordo saudoso das boas discussões tínhamos após as aulas sobre a poesia barroca deste mestre.
Pois bem, no ano passado foi relançado uma antologia da poesia do autor. confira no texto abaixo:
A conhecida antologia da poesia de Gregório de Matos (1633/36-1695), publicada em 1975 pela Cultrix, foi reeditada na íntegra, apenas com correções pontuais. Definido por Manuel Bandeira, em sua Apresentação da Poesia Brasileira, como um poeta “gongorizante” – por seu estilo barroco, próximo ao do espanhol Góngora –, o baiano Gregório de Matos seria “a primeira grande figura da poesia brasileira”, no dizer de Bandeira – que, no entanto, não o afirma por considerá-lo um grande poeta, no sentido artístico, mas sim por sua importância histórica. A obra de Gregório sobreviveu em grande parte pelo grau de polêmica que suscitou em sua época, com poemas satíricos que lhe renderam o apelido de “Boca do Inferno”, dos quais poucos personagens da colônia conseguiam se safar ilesos. Por seu teor crítico, esses poemas parecem justificar a opção pela linguagem rebuscada, repleta de artifícios retóricos característicos da época, como elipses e inversões que a aproximam do hermetismo, tal como em Góngora. Mas há, ainda, seus poemas amorosos, eróticos e religiosos, nos quais se sente mais claramente outro traço da estética barroca, em que se explora a convivência entre opostos – como luz/sombra, fogo/neve.
Poemas Escolhidos de Gregório de Matos
Gregório de Matos
Sel.: José Miguel Wisnik
Companhia das Letras
360 págs. – R$ 39,50
Fonte: Revista Cult