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O público-alvo de Aventuras de Alice no País das Maravilhas são os adultos.
Então, por que, no Brasil, geralmente as pessoas acham que esse livro é leitura para crianças e adolescentes?
Para responder a essa pergunta, é necessário antes falar um pouco de Lewis Carroll, que era, na verdade, um pseudônimo de Charles Lutwidge Dogson (1832-1898).
Nascido em Daresbury, na região de Cheshire, Charles Lutwidge Dodgson formou-se, em 1854, em Ciências Matemáticas, no Christ Church College, a faculdade que foi aalma mater de Oxford; já no ano seguinte, tornou-se professor de Matemática dessa célebre e prestigiosa instituição de ensino.
Terceiro dos onze filhos de um pastor anglicano, ele nunca se casou. Era gago e extremamente tímido; porém, sua gagueira e sua timidez desapareciam, quando ficava a sós com uma criança, ou melhor, com uma menina.
Abre um novo parêntese.
Charles Lutwidge Dodgson sempre manifestou grande afeição por garotinhas (nunca suportou a companhia dos meninos); e seu passatempo preferido – passatempo preferido esse que talvez lhe tenha proporcionado as maiores alegrias na vida – consistia em diverti-las.
Fecha esse novo parêntese.
Pode-se dizer que, nessas ocasiões, Charles Lutwidge Dodgson saía de cena e surgia Lewis Carroll, que tinha o hábito de fotografar suas jovens amiguinhas.
“Dodgson foi (...) um dos primeiros grandes fotógrafos amadores, sendo considerado por Helmut Gernsheim, autor do livro Lewis Carroll: Photographer (1949), como ‘provavelmente o mais famoso retratista da metade da era vitoriana’, depois de Julia Margaret Cameron, e como ‘o mais proeminente fotógrafo de crianças do século 19’.”
Franz Rottensteiner
Franz Rottensteiner
A CRIAÇÃO DE AVENTURAS DE ALICE
Dodgson/Carroll fotografou inúmeras meninas, entre as quais Alice Pleasance, Lorina Charlotte e Edith Mary, filhas do então decano de Christ Church, Henry George Liddell.
Ele as conheceu em 1856. E, num dia quente de verão, no começo de julho de 1862, acompanhado por um amigo seu, reverendo Robinson Duckworth, levou-as para uma excursão de barco pelo Rio Tâmisa.
Nesse passeio, que começou perto de Oxford e terminou na aldeia de Godstow, foi concebido Aventuras de Alice no País das Maravilhas: a fim de entreter as irmãs Liddell (Alice Pleasance tinha, na época, dez anos; Lorina Charlotte, treze; e Edith Mary, oito), Lewis Carroll contou-lhes as proezas de uma menina espevitada que se mete na toca de um coelho. Ele inventou a história, enquanto remava; mais tarde, na noite daquele mesmo dia, escreveu-a inteira, tal como a tinha contado para as meninas.
“Havíamos remado juntos muitos dias naquelas águas tranquilas – as três pequenas donzelas e eu –, e muitos contos de fadas haviam sido improvisados em benefício delas (...); no entanto, nenhuma dessas muitas histórias foi escrita (...).”
Lewis Carroll
Lewis Carroll
Fonte: Revista Literatura
